quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Capítulo 5 - The Sidhe




Eles estavam sentados perto do fogo de seu acampamento, assistindo o pôr do sol desaparecer no azul. Kurt estava sentado na grama, ainda molhada de uma chuva mais cedo, e Blaine estava sentado em uma manta enrolada, com um cobertor sobre os ombros, porque Kurt havia insistido. Blaine estava com um resfriado, e Kurt estava fazendo o seu melhor para cuidar dele com cobertores, caldo quente e toques suaves em suas bochechas e testa.

Blaine certamente não estava reclamando.

Eles tinham viajado por quase duas semanas, e Blaine finalmente tinha que saber. Evitar a questão, era como ignorar o inevitável. Ele estava se divertindo imensamente, mas era algo que ele provavelmente deveria saber.

"Kurt?"

"Sim?"

"Quanto tempo... quando é que a verbena vai ser liberada do seu sistema?"

Kurt brincou com uma folha de grama.

"Eu realmente não sei. Nunca tinha tido a oportunidade de descobrir. Mas ouvi dizer que pode demorar um pouco."

"Você vai saber quando isso acontecer? Você será capaz de dizer?"

Kurt sorriu levemente, ainda olhando para a folha de grama entre os dedos. "Blaine, se você tivesse algemas em seus pulsos e tornozelos durante cinco anos e, em seguida, alguém as tirasse, você seria capaz de dizer?"

"Oh. É desse jeito?"

"É assim."

"Você se lembra como é?"

"Lembro-me de sentir mais. Lembro-me de sentir menos isolado, mais como se eu fosse uma parte de tudo ao meu redor."

"Isso soa incrível."

Kurt suspirou e recostou-se nos cotovelos. "É."

"Quando isso acontecer, Kurt, você não precisará mais de mim. Você, provavelmente, deve..."

"Vamos cruzar essa ponte quando chegarmos a ela, não é?"

Kurt deitou-se na grama, joelhos dobrados e pés apoiados no solo, olhando para o dia desaparecendo. Ele colocou as mãos atrás da cabeça. Blaine começou se deitar também, mas Kurt olhou para ele.

"Não, Blaine. Você já está ficando doente, e sua constituição humana frágil não vai melhorar se você deitar no chão frio e úmido. Na verdade, você provavelmente deveria se aproximar do fogo."

Blaine sorriu. Ele amava o jeito mandão de Kurt. Ele estava claramente, começando a se preocupar com Blaine. Embora ele ainda não soubesse o que fazer sobre isso.

"Kurt?"

"Sim?"

"Posso te perguntar uma coisa... meio pessoal?"

"Você já me perguntou alguma outra coisa?"

Blaine sorriu novamente.

"Bem, antes... quando você disse que ia se casar, isso meio que soou como... bem, como a pessoa que você estava se casando, era um homem."

Agora foi a vez de Kurt sorrir.

"Mais como um menino, na verdade, nós éramos tão jovens. Mas sim. Seu nome ... é... bem, o apelido dele é Firae".

Blaine ficou em silêncio por um momento, se permitindo absorver as palavras de Kurt.

"Eu... eu não sabia que Sidhe faziam isso. Será que as mulheres se casam entre si, também?"

"Sim, se essa é sua preferência. E os homens e as mulheres também, é claro. Nós não temos o mesmo tipo de tabus que as pessoas tem. Acho que esse pode ser o seu maior problema, na verdade."

Blaine riu amargamente. "Oh, eu não sei, Kurt. Nós temos tantos problemas para escolher."

"Bem, sim, mas quando os homens não controlam as mulheres, e o amor não é sobre o domínio, e impotentes não são utilizados para satisfazer os desejos reprimidos dos poderosos... bem, eu acho que isso cuida de um monte dos problemas, ali mesmo."

Blaine refletia sobre isso. Parecia muito simples, e fazia tanto sentido.

"O Sidhe não são perfeitos, Blaine, e alguns de nossos problemas sociais podem ser quase tão perturbadores quanto os seus. Mas ninguém se casa, porque eles precisam para sobreviver, ou para ser cuidado. É uma escolha, e não é uma escolha que todos fazem."

"Mas é uma escolha que você fez."

Kurt ficou em silêncio por um momento.

"Sim", ele disse, apesar de não soar como um sim puro.

"Mas...?" Blaine arriscou.

"Bem... não, nós nos amávamos muito. Houve apenas um pouco de pressão para nós nos casarmos jovens. Talvez mais do que um pouco, na verdade."

"Como assim?"

Kurt suspirou.

"É... a cultura Sidhe é apenas diferente, Blaine."

"Não... você ainda o ama? Firae?"

Kurt olhou para ele. "Eu não sei. Isso foi á anos. Eu nem sei se ele é o mesmo. Eu certamente não sou o mesmo. Mas ele era um amigo querido, e nós crescemos juntos. Sei que ainda me importo com ele, eu não... Eu só acho que eu não sei o que isso realmente significa."

Blaine queria perguntar: é ele bonito? Será que ele te merece? Ele faz seu corpo tremer quando ele beija você? Você poderia me amar do jeito que você o amava? Eu sou menos homem se eu o odeio um pouco, mesmo que ele te fez feliz?

Em vez disso, Blaine disse: "Eu espero que você consiga vê-lo novamente." Foi uma afirmação verdadeira, mas só um pouco.

"Eu também", disse Kurt com saudade, e Blaine desviou o olhar e se sentiu como se estivesse sendo esfaqueado.

Ao longo dos próximos dias, a saúde de Blaine constantemente piorou. Quando Kurt se aconchegou mais perto de Blaine na barraca, uma noite - como ele se viu fazendo de vez em quando - ele ficou surpreso ao ouvir o chiado alto, raso, vindo da garganta de Blaine. Ele pressionou o ouvido no peito de Blaine e seus pulmões pareciam espessos. Ele tocou a testa de Blaine e parecia fogo.

Kurt engoliu em seco. Blaine não estava bem.

No dia seguinte, Blaine quase caiu do poleiro enquanto Kurt estava dirigindo, e Kurt quase inverteu o carro quando ele pulou para pegá-lo. Blaine estava suando, e seus olhos estavam vidrados, e ele estava começando a sair em furúnculos. Kurt envolveu-o em cobertores e levou-o para o carro e dobrou-o sobre o assento.

"Kurt? Quê... Onde..."

"Só durma, Blaine," Kurt o acalmou.

Blaine suspirou e se enterrou em cobertores.

"Eu te amo", ele murmurou, já meio adormecido.

"Eu sei," Kurt sussurrou, permitindo que sua mão permanecesse no rosto de Blaine um pouco mais do que o necessário.

Quando ele acordou Blaine, Kurt foi seguindo-o para fora da carruagem, parecendo pronto para pegá-lo novamente.

"Eu posso andar", Blaine resmungou, irritado. "Eu não sou um bebê."

Ele olhou para as lâmpadas de rua através da garoa, ao redor dele quando desceu, totalmente confuso.

"Onde estamos?"

"Estamos em V'auda. E estamos em uma pousada. Vamos dormir aqui esta noite."

"Kurt, não. É muito..."

"Blaine, sim. Eu não me importo se é arriscado, você não está bem. Você precisa de um banho quente e um pouco de caldo forte e um lugar quente e seco para dormir. Eu não quero ouvir nem mais uma palavra sobre isso."

Blaine gemeu, mas permitiu que Kurt o conduzisse em direção à pousada. Quando eles se aproximaram da porta, Kurt ficou para trás, e lançou os olhos para o chão, à maneira de um escravo.

Eles caminharam em uma sala de jantar quente e suavemente iluminada, onde alguns homens estavam bebendo. Um homem particularmente corpulento estava sentado na frente de uma prateleira cheia de chaves, os pés em cima da mesa na frente dele.

"Perdoe-me", Blaine murmurou, tentando manter a voz firme, "mas nós... uh, Eu... gostaria de um quarto, por favor. "

O homem olhou para eles, seus olhos parando sobre Kurt.

Blaine mal se agüentava em pé, mas ele queria medir os olhos do homem, apenas para eliminar a expressão que viu neles. Isso iria acontecer a cada vez? Haveria um homem decente sequer, em toda Villalu?

"Hmmm", disse o homem preguiçosamente, olhando a beleza de Kurt e o desespero de Blaine. "A coisa, filho, é que eu não tenho certeza se tem quartos abertos agora."

"Mas o seu sinal disse que tinha vagas!"

"Será que ele disse? Hmm. Devo ter esquecido de mudar isso. "

Blaine balançou a cabeça. Ele realmente não tinha energia para lidar com isso agora.

"Vamos", ele murmurou, virando-se para sair.

"Bem, agora, espere um minuto", disse o homem, apreciando o jogo. "Eu acho que eu poderia ter um pequeno quarto nos fundos. Mas isso vai custar-lhe um pouco de tempo com o seu elfo. Isso é justo, certo? Vê? Não sou uma má pessoa."

"Não", respondeu categoricamente Blaine, puxando Kurt em direção à porta.

"Blaine", Kurt sussurrou, puxando seu braço para trás ligeiramente. "Pare".

Blaine parou. Ele era quase incapaz de andar, muito menos levantar-se, e seu peito arfava com o esforço de se mover alguns passos. O suor escorrendo pelo rosto, e seus lábios estavam queimados de feridas.

"Blaine. Apenas... pegue o quarto. Precisamos dele."

Blaine olhou para Kurt.

"Você não pode estar falando sério."

"Uma última vez não vai me quebrar, Blaine. Por favor, deixe-me fazer isso. Estarei... Eu vou ficar bem."

"Não."

"Blaine, por favor. Eu não vou vê-lo morrer."

"Não."

Kurt suspirou e tocou o braço de Blaine levemente, com a mão livre. Ele odiava usar isso, mas...

"Blaine, eu preciso de você. Se alguma coisa acontecer com você, não haverá ninguém para me proteger. Se eu tiver que fazer isso de novo, eu prefiro que seja por uma noite, do que... Eu não posso ser um escravo novamente, Blaine. eu não posso."

Blaine soltou Kurt e dirigiu-se para o estalajadeiro, tão rápido quanto seus pulmões esforçados permitiriam a ele.

"Eu vou pagar o dobro da taxa."

"Eu acredito que eu já tenha o meu preço."

"Triplo".

"Filho, o que é isso com você? Tem doce em seu escravo ou algo assim? Estou oferecendo-"

"Jaren!"

O estalajadeiro girou bem a tempo de ganhar um tapa na cabeça por uma mulher mais velha, de cabelos grisalhos e olhos duros como aço. Ele se encolheu.

"O que diabos você pensa que está fazendo?" Ela olhou para Kurt com nojo. "Você quer um escravo, você se levanta de sua bunda e trabalhe, e compra um maldito escravo. Se você der mais um quarto de graça, só porque você não consegue parar de pensar com o seu pau por cinco minutos ... "

"Ma! Vamos! Eu realmente não estava indo..."

"Tire sua cabeça de seu traseiro!" Ela cuspiu. "Faça alguma coisa útil de vez em quando!" Ela deu-lhe outro tapa sólido na parte de trás de sua cabeça, causando-lhe um gemido enquanto corria para longe.

"Agora", disse ela, fixando em Blaine um olhar astuto. "Eu acredito que eu ouvi você dizer algo sobre o pagamento triplo da nossa taxa de costume."

Blaine caiu no chão.

Kurt correu para ele, ajoelhando-se para sentir o pulso. Foi estável. Trêmulo, Kurt se levantou.

"Minha senhora", disse ele, olhando humildemente para o chão. "Peço desculpas por lhe abordar diretamente, mas meu mestre está muito, muito doente e eu preciso cuidar dele. Garanto-lhe que ele terá prazer em pagar o triplo a sua taxa de costume, e eu gostaria de pedir um banho quente e um pouco de suprimentos para que eu possa atendê-lo, que ele vai, naturalmente, pagar muito bem".

A mulher levou uma fração de segundo olhando para Kurt antes de abordar a pilha semi-consciente no chão.

"Diga ao seu elfo para fazer uma lista das coisas que você precisa, e eu vou enviar-lhe uma menina. Isso se ele puder escrever."

Sim, eu posso, sua velha infeliz, Kurt pensou.

"Isso não será um problema. Obrigada", isso é o que ele disse.

"Nós temos uma suíte com casa de banho privada", disse ela, continuando a fingir que estava se dirigindo a Blaine em vez de Kurt. "Há até uma bomba instalada, alimenta o banho de uma fonte de água quente no subsolo. Não é barato, no entanto. E a uma taxa tripla..."

"Ele vai pagá-la", disse Kurt, trabalhando muito duro para parecer calmo.

"Muito bem. Siga-me."

Kurt pegou Blaine e seguiu a mulher. Blaine não reclamou neste momento, mas ele gemeu ligeiramente.

Seu pulso começou a desvanecer-se.

Depois de terem sido mostrados ao seu quarto, Kurt colocou Blaine na cama e rapidamente elaborou uma lista das coisas que eles precisavam. Ele entregou-a a estalajadeira mais velha, e ela agarrou-a, recusando-se a olhar para Kurt, e saiu sem dizer uma palavra.

Kurt começou o banho e, em seguida, desceu para os estábulos para buscar algumas ervas específicas da carruagem.

Quando voltou, o material que ele tinha pedido havia sido colocado em uma pilha arrumada em cima da cômoda, e uma jovem estava no processo de ligar a lareira. Ela só se virou para olhar para Kurt brevemente antes de terminar sua tarefa.

Quando o banho estava pronto, Kurt despiu Blaine com cuidado, tentando não olhar muito. Era completamente inadequado, dada a situação, e Blaine tinha sido nada além do mais respeitoso cavalheiro com Kurt...

Ele olhou para Blaine. Mas só um pouco.

Quando Kurt o colocou no banho, os olhos de Blaine se abriram, e ele o olhou com adoração. Ele não falou, mas continuou a olhar para Kurt enquanto este o banhava, seus olhos febris brilhantes, cheios de admiração.

Após seu banho, Kurt secou Blaine e colocou-o em um roupão de linho macio. E gentilmente colocou-o na cama.

Kurt estava preparando o caldo quando ouviu um estrondo atrás dele.

Blaine tinha caído no chão novamente.

E desta vez ele tinha perdido completamente a consciência.

Ele não estava dormindo. Ele não estava semi-consciente. Isso não era temporário. Seu pulso estava fraco e ele estava quase sem respirar.

Kurt tinha exatamente uma opção restante, ou Blaine ia morrer.

Kurt se sentiu tremer. Se ele fez isso... Será que Blaine saberia? O que ele faria? Como isso mudaria as coisas?

Isso mudaria tudo.

Mas se ele não fizer, Blaine vai morrer.

Kurt sentou-se no chão, e reuniu Blaine em seus braços.

E beijou sua testa.

Então, Kurt fechou os olhos e soltou um suspiro profundo. Quilos de tensão caíram de seus ombros, e sua pele começou a brilhar.

E todos os lugares onde a pele dele tocou, Blaine começou a brilhar também. No início, o brilho era suave, como a luz solar difusa, e então ele começou a pegar profundidade e riqueza. Os envolveu, se aprofundou em âmbar e, em seguida, mudou de posição, para finalmente se fixar em uma folha verde vibrante.

O quarto cheirava como uma floresta na primavera.

Eles foram enterrados nesse cheiro, e ele foi enterrado dentro deles. O brilho permeou os órgãos de Blaine, delicadamente alimentando-os com pura vitalidade concentrada. Ele afundou em sua pele, tirando o veneno e substituindo-o com vida. Ele perseguiu a escuridão, e banhou cada célula com luz.

Quando acordou na manhã seguinte, Kurt dormia docemente ao lado dele, e Blaine nunca tinha se sentido melhor em sua vida.